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27 de setembro de 2022
O batom vermelho
Saí cedo de casa. Malhação às 5h da manhã, arrumar os filhos para escola, café da manhã corrido. Para mim era apenas mais um dia de trabalho.
Para ela, uma luta para manter a visão no olho transplantado: “Quem tem dois, tem um. Quem tem um não tem nenhum” dizia a paciente do batom vermelho sem esmorecer.
Foram diversas tentativas. Tivemos que combater algumas rejeições, passar por novas cirurgias para controle do glaucoma, a visão escureceu, mas o batom vermelho brilhava.
Brilhava com medo. A paciente do batom vermelho agora só contava com um olho. Um olho doente, com a mesma enfermidade de uma família inteira. E cada olho com uma história e trajetória diferente.
Seguimos os cuidados nas consultas seguintes. Certo dia, ela entrou na sala e, para minha surpresa, estava sem o batom vermelho. Me preocupei.
Junto com a boca sem cor, estava o semblante triste, o corpo encurvado, a voz trêmula.
A visão deste olho, agora único, oscilava. E o batom passou a ser o meu termômetro. A boca pintada na entrada do corredor já me dizia tudo. Hoje estava tudo bem!
E veio a pandemia. Com a máscara, eu já não conseguia perceber o batom vermelho, mas os exames consecutivos me mostravam que nada ia bem.
E no meio da dúvidas, se devia ficar com a visão atual escassa, que já não era suficiente, ou tentar dar cor novamente aos dias cinzentos, chegou o dia de um novo transplante de córnea. Transplantar o olho único.
A cirurgia estava agendada para Segunda-feira. Me concentrei no fim de semana. Não exagerei nos horários, comi e bebi pouco. Naquela manhã também não malhei. Sabia de toda expectativa depositada. Eu estava pronta.
A rotina do centro cirúrgico seguiu normal: a conferência do nome, data de nascimento, acesso venoso, anestesia.
“Pode abaixar a máscara dela um minuto para colocar o oxigênio?” Solicitou o anestesista.
Enquanto eu ajeitava o foco do microscópio e aguardava a limpeza da face, lá estava: o batom vermelho. E ele estava mais forte e reluzente do que nunca. A equipe do centro cirúrgico achou graça. Eu sorri internamente.
E ela, a paciente do batom vermelho, estava pronta, confiante. Nós duas já sabíamos que daria tudo certo.

27 de Setembro – Dia nacional da doação de orgãos!

Dra. Tatiana Prazeres, fundadora do In.Sight Instituto.

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